Tem que fazer sentido! As alianças
Em dois anos e nove meses de relacionamento, moramos juntos há dois anos e quatro meses. A maior parte da nossa vida como um casal foi embaixo do mesmo teto, dividindo as contas, responsabilidades, o cachorro e a cama. E mesmo assim, sempre tivemos essa vontade de termos um dia nosso, uma festa, um evento, um marco na nossa vida a dois. Talvez por vermos cada vez mais amigos casando, talvez por deixarmos os “inte” e sentirmos o peso dos “inta”, mas essa vontade foi se tornando cada vez mais latente com o passar do tempo, até que “um” casamento (e não “o” casamento) começou a ser planejado.
Visualizamos o casamento na cidade da nossa primeira viagem como um casal, começamos a correr atrás de tudo que tinha que ter, que não podia faltar e que seria indispensável e, claro, MUITO original. O buffet indicado pelo hotel, com a assessoria por trás de inúmeras festas no mesmo local e com o decorador que conhece a planta do salão e a cidade como a palma da mão e consegue fazer coisas lindas, conforme fotos apresentadas em um PDF intitulado “Proposta Casamento 2017”.
E em um mundo de orçamentos, contas, planilhas de PDF, reuniões por Skype, “noivinhos” e decisões, sentimos falta de alguma coisa. Algo no meio daquilo não estava certo. Algo não ornava.
Seria a decoração? Impossível, o decorador que eu não lembro o nome mandou no PDF vários exemplos de combinações perfeitas, sem nem mesmo perguntar o que a gente gostava. Então era a assessoria. Também não, a menina que nunca vimos ao vivo tinha passado total confiança no que ela estava fazendo. Então era o local, só podia ser o local. Mas não tinha como ser, nossa primeira viagem como casal foi para lá, não tinha como ser mais perfeito.
Eis que o problema se tornou evidente. Não queríamos absolutamente NADA que fosse perfeito. Queríamos algo que fosse nosso, imperfeito, bagunçado, e levemente caótico. Ou seja, a nossa cara. Queríamos um casamento em que cada detalhe gritasse “Foi o Gustavo e a Mariana que pensaram nisso!” e não um casamento pré-moldado em uma indústria que ganha na repetição e na falta de esforço. Queríamos algo que fizesse sentido.
Apaga a lousa, zera o relógio, esquece os planos e volta à mesa de projetos. Se for para ser assim, é melhor nem casar.
E assim foi. Uma ideia que antes era tão presente se tornou quase esquecida. Deixada de lado pela frustração para amadurecer até a chegada de um momento que a fizesse despertar. E com esse momento, chegou também o nosso despertar. O nosso “wake up call”. A nossa hora de pôr em prática a premissa “Precisa fazer sentido!”.
E assim também foi, e está sendo. Uma ideia antes esquecida para amadurecer hoje toma forma de maneiras perfeitamente imperfeitas. Seja pela decoração feita por uma amiga de longa data ou pela banda da festa liderada por uma amiga não tão “velha guarda” assim. Seja pela ausência de padres e juízes de paz e sua substituição por dois dos melhores amigos que a vida já nos deu falando sobre quem realmente fomos, somos e seremos.
E seja pelo fato de sabermos, sentirmos e vermos que o casamento se trata de pessoas. Não somente as duas pessoas falando “Sim”, mas todas as pessoas envolvidas por trás disso tudo. E que para um casamento dar certo, antes mesmo de acontecer, só basta a sintonia e saber que aproveitar o processo é tão importante quanto aproveitar o dia em si. Afinal, ainda faltam 9 meses para esse dia chegar.
E o primeiro passo foi dado com as nossas alianças. A escolha das alianças também costuma ser algo completamente robótico, pré-pronto e pensado na conveniência: vou comprar da Loja X, com seus 30 anos de tradição e garantia estendida, polimento gratuito para toda a vida e um puta desconto quando eu quiser trocar de aliança e pegar outra. Mas a conveniência beira muito à perfeição tão evitada pelo casal que vos fala. Queríamos que o primeiro passo oficial do nosso casamento fizesse sentido.
E não somente o primeiro passo oficial, como também a primeira coisa tangível. Afinal, passaremos quase 12 meses assinando contratos, fechando fornecedores, pagando boletos e depositando cheques sem sentir nada concreto, nada real, nada ao nosso alcance físico. Por isso a decisão de fazer as alianças com 9 meses de antecedência: queríamos sentir fisicamente algo além das nossas emoções. Não só queríamos como precisávamos.
E na contramão do que se espera, encontramos um pequeno estúdio comandado por um casal de ourives, artesãos e empreendedores, que tentam fugir do padrão das joias comerciais e buscam sua identidade, buscam deixar a sua marca no mundo. E preferimos muito mais pagar para um casal que está trilhando seu caminho no mercado do que para um conglomerado de empresas que vendem joias em moldes e recebem dinheiro em contas PJ. E não tínhamos como ficar mais felizes com o resultado. Uma aliança única, singular, que não encontraremos em nenhuma outra vitrine ou em nenhum outro dedo por aí. Uma aliança pensada por nós e para nós.
E que assim, continue.
Gustavo Assef, 30 anos, Tradutor & Intérprete.
Mariana Vitale, 29 anos, Trend Researcher.
Zero, 6 anos, Bull Terrier.
Hamburguer, séries, filmes, viagens, cachorros, música, livros, skate, piscina, batata frita, noivos, em breve casados e uma definição inteira sem verbos.
Confira o vídeo do role das alianças!